terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Barca Velha 1995

Num almoço com um grupo de amigos, a conversa andava à volta do vinho, chegando ao Barca Velha, onde a pergunta colocada foi: "O Barca Velha vale o preço?". Ninguém conseguiu responder, porque ninguém tinha provado... ficou um desafio, "vamos provar", para isso e para não custar muito surgiu a ideia de contribuímos com 1€ por semana cada um (éramos 8), e quando chegássemos ao valor estipulado, compraríamos a garrafa, para numa bela jantarada degustarmos esse néctar e tirar todas as teimas.

Este projecto foi avançando, fazíamos por diversas ocasiões provas, que chamávamos de preparação para o Barca Velha, onde 2 de nós, à vez, traziam garrafas que iam a prova, com pontuação e relatos de cada um, eventos muito engraçados, com que todos evoluímos neste nosso caminho até ao Barca Velha.




Com enorme satisfação conseguimos um grande aliado, o Sr. Joaquim, dono do Restaurante a Floresta do Salitre, que nos disponibilizava no seu restaurante, a garrafa Magnum de Barca Velha 1995, a um preço que nenhuma garrafeira conseguia acompanhar.

Depois do longo percurso em conjunto, chegou o dia... o grande dia!

Quando chegámos ao Restaurante (Floresta do Salitre) a mesa estava preparada a rigor, num retangulo alargado, que fazia com que estivéssemos todos com mais espaço e com possibilidade de conversar melhor e trocar ideias entre todos os presentes com mais facilidade.
As entradas estavam preparadas, uns óptimos salgados, um queijo de grande qualidade, um melão com presunto de chorar por mais, o pão sempre muito bom e não podiam faltar as bolachas de água e sal com marmelada para limpar o palato.



Para nossa surpresa o Sr. Joaquim, gentilmente, ofereceu-nos umas garrafas para bebermos antes de entrarmos na prova do esperado Barca Velha. Um Quinta do Carmo Reserva 2000, um Bacalhoa 2001 e um Chryseia 2001. Não me vou alongar na análise a estes vinhos, mas o Quinta do Carmo, estava já com a idade a pesar, mas ainda com muito para dar, o Bacalhoa, não demonstrava ainda a sua idade, mas o Chryseia foi a estrela entre estes vinhos, uma maravilha, um grande vinho em grandes condições.
Estes néctares acompanharam um entrecosto à moda da Floresta, de chorar por mais, um pedido expresso para esta prova.

Chegou o momento... o Barca Velha...

No copo apresentava-se apelativo, e a emoção aumentava. Antes de agitar, a cor límpida e escura era o mote para o que aí vinha. O aroma, ainda antes de agitar, era já notório, apesar de me ter deixado apreensivo uma vez que já se sentia a idade, com o rodar do copo os aromas e o oxigénio que o vinho ia ganhando libertou novos aromas, mais complexos e mais apetecíveis. No sabor, muita complexidade um vinho para estudar para degustar, um prazer enorme, mas o que mais me fascinou foi o final deste vinho que "não acabava" neste trago as sensações foram imensas, o vinho parecia que era imortal, percorria a boca de uma forma única, um veludo na garganta, uma experiência para a vida.



Mas a analogia que queria deixar nesta minha experiência de beber este Barca Velha, é que senti-o como um bebé, acho que alguns pais vão perceber esta sensação, queremos aproveitar todos os momentos, mas no final, achamos que não o aproveitamos como devíamos, "cresceu" rápido demais e perdemos momentos importantes. Achei que o jantar talvez tenha sido apresado demais, talvez pela expectativa que todos tinham, penso que não se aproveitou o crescer deste bebé e os seus momentos. No final acho que não senti o Barca Velha como acho que ele merecia, como eu o queria sentir. Faltou aproveitar todo o seu esplendor com calma tranquilidade, com serenidade.


Quanto à pergunta, o Barca Velha vale o seu preço? A minha resposta é, não sei, bebemos história, o vinho que é marca de Portugal, um grande vinho. Mas não consigo responder... desculpem.